quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Um Conto Sobre a Gripe ( Parte I )

Acordo antes que mudem as estações, antes que haja infinitos, antes que a carne supere o letal e que de ápices o retorno adormeça. Danço, na tentativa que se exploda... transcenda-me... Evapore-me em absurdos ou poemas...
9:41

Primeiro ato do dia: uma tossida colossal de cuspir órgãos à distância; tudo dói enquanto faço café, lacrimejo, meu corpo queima. É febre. Arde, um nó na garganta, um gosto ruim, antes fosse insosso, eu não fosse, mas foi a chuva.

Ânsia... o café, e uma confusão no peito ao respirar, parece desistir... cansado de aflição, chiar, falta ar.

Banho, som e alguns pensamentos afogam-se por instante... não morrem... nem eu, só as plantas que esqueço, porque não volto, secam. Descubro que a morte é amarelada fico pasma, estou pálida. Volto a tentar, mas já esta frio. Quase desisto mais reesquento porque acho que no fim será melhor, engulo como dose. O melhor remédio é esta na cama, é suar no acalento humano ou do travesseiro. Prossigo, agora sou eu quem está fria e bipolar, estar bem e mal é complexo, estou inquieta mesmo exausta. Chego à solução temporária comprimida em diclofenaco de potássio e um poema de Hilda Hilst.
  
15:50

Acordo algum tempo depois, sem nenhum sonho novo, eu não mudei, a temperatura do meu corpo é infernal e sinto mais sede. Gostaria da velocidade, gostaria de não ser o hoje, gostaria de fumar um cigarro sem morrer, sem morrer de tédio, de ser de devorada por relâmpagos.

Li quadrinhos do Charlie Brown, molhei as plantas, escutei Cyndi Lauper, meu estômago dói... Ramones, The Cure, voltei pro Garcia Marquez, conversei com a Raisa, Joca, escutei Mercenárias, lavei as calcinhas, odeio amígdalas, fiz ligações, rolei pra um lado rolei pro outro, conversei com a Thais, senti frio, calor, raiva, morri fumando um cigarro, tentei não pensar, escrevi um conto.

Estou em casa a trinta e sete horas e alguns minutos, já não caibo mais aqui, em mim, ando em círculos  enquanto a  Alê procura não se sabe o quê.

18:39

Gostaria de desdobrar-me na maldição da ressaca, ou no desequilíbrio de uma paixão pós-botequim, mas não, o que me consome é uma franqueza sem fetiche... febre estúpida não sexy, um cansaço justo, porém, desnecessário. Me acalenta lembrar de noites mal dormidas e bem amadas.

Esqueci o remédio, está tudo fora do horário, dói escrever, respirar tá um saco, parece saudade. Então fico no breu da cama... uma música triste... Sinto-me cansada, fecho as cortinas, não gosto de sol desenho luas estranhas na parede rock and roll.
Fragmento.

21:40
Não consigo ver um filme de guerra ou música, mais preciso de algo...
Também não é a primeira virose de uma vida de vinte e nove anos, não será a ultima.
Acho que ainda tenho saúde para outras. Esta forma como me sinto passa.
Bom seria vodka, não ligo pra vodka, mas vodka cura tudo ou mata...
                                                                                      
As palavras fritam em meus poros, enfeitam o inútil.
Por quanto tempo sobreviverei ao banho Maria?  Desenvolverei a asma do choro?
Pulminho, pâncreas, fígado e ossos, não sei o que dói em solo, sobre o coração dizem que só dói quando morre, o meu está intacto ou nasceu morto, não sei mesmo.
Penso em vodka com suco de laranja, falei com Monique e Bia. Está ficando tarde e já não posso mais ir a lugar nenhum com minha falta de paz de espírito nesta segunda-feira. Mudo de posição, escrevo poemas paralelos ao conjunto da obra por ócio, o conceito ainda vou desenvolver com a contemporaneidade. Este é  para outros enfermos de verão.

22:28

Encontrei um ex pela Internet; perdi o atual no bar... estou só. Por que tudo não se vai de uma vez? Sempre fica um incômodo temporário, chamado expectativa: Vulgo telefone... deixa pra lá, vou tomar um banho e me deitar...cof cof Tá foda!
Virei peixe e cachoeira; minhas costas o alicerce da queda d’água mãe e minha mente o pequenino que habita. Condensei-me..
Estou em delírio

23:01

Desliguei tudo, acendi um cigarro; não havia barulho, dentro ou fora. É muito difícil o silêncio... Nomes que definem entalam-se involuntariamente.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Sóbria

Sóbria particularidade

Cética insistência 

Enreda meus passos

Desprezo intelecto

Desprezo cartas de amor

... E a incompetência de seu corpo

Que se vai.

Mítico

Em mitícas erupções cerebrais
Concluo sem lógica
O final das horas

Agarro-me ao que resta
...Enganar noites.
Entre bem e mal tudo me faz.
Lembrança encardida a sete chaves

Prostrai-me as horas, tempo de inferno
Deixe-me em sono, mesmo sem paz
Deite-me em braços relentos

Minta-me a falta
Confunda-me a pele
Cale-me em boca.

Cinza Rubro

Vozes incansáveis ocupam todo espaço
poluem todo céu
Em mudança de estados
sou dança da chuva,
qual não lava-me, leva-me ou deixa-me
aqui, além de nuvens

Interpreto-me em cores
ao escorrer por  inteiro
adormeço a calma de dias inexatos
atualizo minhas inertes emoções compulsivas
invento dimensões
aladas fugas contemporâneas
...Abraço-me nas sobras de meus sonhos
Onde ficara o som daquele instante de silêncio?
Vi teus olhos cansados de sentir depois...
o instante cúmplice do presente futuro
ao desenhar, inexistentes palavras em eco
Não há contas a pagar
nada restou como bilhete
ou lugar de despedida

...Ficou um cinza rubro
sem vontade;
Como rosto pós-noite que
amanhece ao sol...

E olhos a avaliar,
horas maquinais por quais não caminho
No canto o violão espera
a harmonia e o completo
sozinho ao pó
a contornar as curvas e os riscos
de ser imaginação ou equívoco
ao juntar-se ao ar, esvair-se ao nunca.

Mia Vieira
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